Uma vez enquanto andava de ônibus, eu e minha amiga vimos uma senhora numa cadeira de rodas brigar com uma mulher.
As duas estavam naquela parte pra gente especial do ônibus, a senhora numa cadeira de rodas, e a menina, que devia ter um trinta anos, estava com uma criança pequena. Eu não entendi o motivo da briga; parece que mãe foi mal educada com a menininha, e a senhora cadeira de rodas se sentiu no direito de interferir.
Quando a briga acabou, a cadeira de rodas estava chorando, dizendo, 'você não sabe o que a gente passa', 'educação é importante', 'respeito', 'as pessoas têm preconceito e nem sabem disso', e outras coisas assim.
Esse dia ficou marcado na minha memória, mas não pelo drama, mais pela pergunta: Como alguém com uma cadeira de rodas consegue subir num ônibus?
Eu lembrei disso hoje em uma matéria do jornal de vagas para deficientes.
Minha mãe fica brava com esse negócio de vagas para idosos. Ela diz que quem merece vaga especial é gente que trabalha o dia inteiro e tem pouco tempo de almoço, porque daí estaciona logo e tem mais tempo pra comer.
Agora, é considerado idoso gente com mais 60 anos. Gente com de 60 às vezes nem parece com sessenta, mas ganha vaga mesmo assim. Isso não é meio estúpido? Meu avô tem um amigo que todo mundo diz que não tem 60, mas daí mostra a carteirinha e todos pedem desculpas ao ver a data de nascimento.
Claro que cavalo dado não se olha os dentes, mas eu acho que a nossa versão de politicamente correto, está político demais e correto de menos.
